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Ela pode não ser uma megalópole tão conhecida, como Pequim ou Xangai, mas é a sétima maior cidade da China e a número 42 do mundo. Mas agora, Wuhan ganhou fama: é a origem de um novo tipo de coronavírus, que já infectou mais de 830 pessoas no país e matou pelo menos 25.
O vírus já se espalhou para outros oito países — Arábia Saudita, Cingapura, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão, Tailândia, Taiwan e Vietnã. Não há registro de casos confirmados no Brasil.
Suspeitas chegaram a ser informadas por quatro Estados (Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul) e pelo Distrito Federal, mas o Ministério da Saúde descartou que sejam casos do novo coronavírus, porque os pacientes não atendiam aos critérios clínicos (febre e mais algum sintoma respiratório) e epidemiológicos (ter viajado para Wuhan, ter tido contato com um paciente suspeito ou confirmado) estabalecidos pela Organização Mundial da Saúde para a identificação de possíveis casos.
Em Wuhan, capital da província de Hubei, autoridades locais admitem que estão em um “estágio crítico” de prevenção e controle. Na quarta-feira, foi anunciado que todo o transporte da cidade chinesa seria interrompido, e a cidade parcialmente “fechada”, ou seja, pessoas “sem motivos especiais” não poderiam deixar a cidade, com o objetivo de barrar a propagação do vírus.
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As medidas drásticas vêm pouco antes do início das comemorações do Ano Novo Chinês, época de maior movimento de pessoas no país e no mundo.
Ponto estratégico nacional
Segundo dados das Nações Unidas para 2018, a população desta cidade é de 8,9 milhões de pessoas — mas outras fontes falam em até 11 milhões.
Ela é conhecida coloquialmente como a “panela da China” por suas altas temperaturas, sobretudo no verão.
É também cenário para capítulos importantes na história do país. Resultado da união de três localidades, Wuchang, Hanyang e Hankou, foi ali que começou a revolução que deu fim à China imperial, a revolta de Wuchang, em 1911.
O enclave é um importante ponto de conexão da rede de transporte do país: fica a poucas horas de trem das cidades mais importantes, o que o torna estratégico para a infraestrutura ferroviária de alta velocidade.
Construída no curso intermediário do rio Yang Tsé — que, com quase 6,4 mil quilômetros, é o maior rio da Ásia e o terceiro do mundo — também tem um importante porto, com navios que se conectam a Xangai, no leste, ou à Chongqing, no oeste.
Justamente o tamanho e a importância econômica de Wuhan explicam em parte por que o vírus viajou tão rapidamente no sudeste da Ásia e até chegou aos Estados Unidos.
Em resumo: o vírus se espalhou assim porque muitas pessoas entram e saem de Wuhan, carregando o vírus.
As autoridades chinesas estão aconselhando as pessoas a não viajarem para lá; aos seus habitantes, recomendam que evitem multidões e minimizem reuniões com mais pessoas.
“Basicamente, não vá para Wuhan. E para aqueles em Wuhan, por favor, não deixem a cidade”, disse Li Bin, vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde da China.
Além disso, ele avisou que nesta quinta-feira as autoridades suspenderiam o “transporte público urbano — metrô, balsa e transporte de passageiros de longa distância”.
O aeroporto e as estações de trem seriam “temporariamente fechados”.
O vírus já está em pelo menos 13 províncias chinesas, além das regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau, que confirmaram seus primeiros casos na quarta-feira, informou a agência EFE.
Conexões internacionais
Além disso, a cidade tem um aeroporto que a conecta com todas as regiões do mundo, direta ou indiretamente.
O Aeroporto Internacional de Wuhan transportou 20 milhões de passageiros em 2016 e oferece voos diretos para Londres, Paris, Dubai ou Nova York, entre outros.
A cidade, de acordo com seu site, é “a base tanto das indústrias de alta tecnologia como as tradicionais”.
Wuhan tem várias zonas industriais, 52 instituições de ensino superior e mais de 700 mil estudantes.
Cerca de 230 das 500 maiores empresas do mundo (classificadas pela lista da Fortune Global) já investiram ali.
Os mais notáveis são da França, que possuía uma “concessão estrangeira” (território arrendado) em Hankou, hoje Wuhan, entre 1886 e 1943. Há investimentos de mais de 100 empresas francesas, incluindo a Peugeot-Citroen, que tem ali um consórcio chinês.
Wuhan também serve como porta de entrada para as Três Gargantas, uma região turística e sede da enorme hidrelétrica homônima.
‘Imagine fechar Londres antes do Natal’
James Gallagher, repórter de assuntos de saúde da BBC
Wuhan está começando a se parecer muito com uma cidade em quarentena. As autoridades já avisaram aos moradores para não deixarem a cidade e pediram aos visitantes em potencial que desistissem do plano.
Agora, a interrupção do transporte público, incluindo voos, bloqueia muitas das conexões de e para a cidade.
É uma tentativa notável de impedir a propagação deste novo vírus, que sabemos agora poder ser transmitido de pessoa para pessoa.
A limitação do transporte reduzirá a possibilidade do vírus chegar a outras cidades da China e a outros países do mundo. Tudo isso ocorre quando milhões de pessoas estão viajando por todo o país para as festas do Ano Novo chinês. Para colocar em perspectiva: imagine fechar Londres na semana anterior ao Natal. A grande questão que resta agora são as estradas: será que alguns dos milhões de habitantes de Wuhan conseguirão deixar a cidade com seu veículo?
Embora a China não tenha confirmado a origem exata do vírus, agora conhecido como 2019-nCoV, as autoridades acreditam que o surto se originou em um mercado de Wuhan.
“Este é um dos chamados ‘mercados úmidos’, muito comuns na Ásia”, explica Howard Zhang, editor do serviço chinês da BBC.
“São mercados onde animais vivos são vendidos. Você pode ver galinhas vivas e peixes nadando em tanques de água.”
“Isso ocorre porque as pessoas querem produtos frescos. Então, por exemplo, diante de um comprador de frango, o vendedor sacrifica e corta o animal no estande. Todas as sobras ficam espalhadas, com pouca higiene e cuidado com a saúde, o que facilita a propagação de doenças”, explica Zhang.
“Suspeita-se que o vírus tenha se originado em um desses mercados”, acrescenta.
Como observado por Gao Fu, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, é provável que o vírus tenha sido originalmente transmitido de um animal para um humano.
As autoridades proibiram a venda de animais vivos em Wuhan, e há relatos de que a polícia está realizando inspeções para garantir que a determinação seja seguida.
Propagação
Segundo especialistas, embora o vírus tenha se originado em um mercado local, é o fluxo de pessoas que entra e sai de Wuhan que causou sua rápida disseminação.
O paciente infectado identificado nos Estados Unidos, por exemplo, visitou Wuhan recentemente, assim como duas pessoas infectadas no Japão. Além disso, um paciente na Coreia morava lá e o caso na Tailândia é de um turista chinês de Wuhan.
O que preocupa as autoridades agora é que esse fluxo pode aumentar à medida que o Ano Novo chinês se aproxima, e milhões de pessoas circulam para comemorar.
As celebrações oficiais começam nesta sexta-feira, dia 25, embora as viagens já tenham começado e geralmente durem até o final das festas. Esse período é conhecido como a maior “migração interna” do mundo, na qual milhões de pessoas se deslocam anualmente.
Portanto, protocolos de saúde já foram impostos em aeroportos e estações de trem com conexão com a cidade.
Mas, embora o vírus possa continuar a se espalhar rapidamente, as autoridades chinesas estão melhor preparadas agora, opina Howard Zhang.
“Após a emergência de saúde pública do vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (conhecida pela sigla em inglês Sars) em 2002, que também era um coronavírus originado na China e que matou quase 800 pessoas no mundo, as autoridades de saúde chinesas aprenderam muito sobre esse tipo de situação”, diz o editor.
“Naquele tempo, as autoridades levaram semanas para identificar o problema e, quando era algo conhecido no resto do mundo, já havia milhares de pessoas infectadas”.
“Agora, pelo menos, já há uma infraestrutura para enfrentar o problema e esta parece estar agindo rapidamente — tanto na identificação da infecção, na confirmação dos casos e no controle de acesso à cidade”, acrescenta.