Adolescente sueca que deu início a um movimento internacional de estudantes que pede medidas para combater as mudanças climáticas, Greta Thunberg, 16, foi eleita pela revista Time como a personalidade de 2019.

A ativista, que foi cogitada para o Prêmio Nobel da Paz em 2019, chegou a ser chamada de pirralha pelo presidente Jair Bolsonaro.

Sua resposta foi com ironia: ela usou o “pirralha” como descrição pessoal em sua conta no Twitter, onde é seguida por 3,2 milhões de pessoas. Ele já atualizou sua conta sem o termo. Ela também foi alvo de uma fake news compartilhada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Greta Thunberg colocou o termo “pirralha” no perfil do Twitter

A história de Greta Tudo começou em uma sexta-feira, em agosto de 2018, quando a sueca, então com 15 anos, faltou à aula para protestar contra as recentes ondas de calor e os incêndios que afetaram o país. Ela se sentou em frente ao Parlamento da Suécia com um cartaz com os dizeres: “Em greve escolar pelo clima”. O protesto solitário de Greta ganhou o noticiário e inspirou jovens de todo o mundo a criarem mobilizações a cada sexta-feira para que políticos e autoridades mundiais cumprissem as metas de emissão de gases causadores do efeito estufa.

Greta Thunberg em discurso da ONU em setembro de 2019 Imagem: Lucas Jackson/Reuters

O movimento, que ficou conhecido como “Fridays for Future” (Sextas pelo Futuro, em tradução livre), culminou em uma greve escolar global no dia 15 de março, com protestos em mais de cem países

“Vocês roubaram os meus sonhos e infância. Estamos no início de uma extinção em massa, e a única coisa que vocês falam é sobre dinheiro e o conto de fadas de crescimento econômico eterno. Como se atrevem?”

A adolescente incomoda muita gente. Ela costuma receber críticas de que seu discurso é exagerado e apocalíptico. Donald Trump, o presidente norte-americano, a chamou de “histérica”. Ela também foi acusada de ser “uma falsa santa” e de estar a serviço de ONGs ambientalistas e empresas que querem explorar o “mercado verde”. Greta já se posicionou sobre o assunto. “Estão muito desesperados em não falar sobre as crises climática e ecológica? Não entendo por que eles escolhem gastar tempo zoando e ameaçando adolescentes e crianças por promoverem a ciência enquanto poderiam estar fazendo algo de bom”, escreveu no Twitter

Voz da juventude

Para Luis Felipe Valle, professor de geografia e atualidades do Colégio Oficina do Estudante, de Campinas (SP), Greta encarna o medo dos adolescentes sobre o futuro e o desencanto em relação aos governantes atuais.

“São estudantes, que em sua maioria, preocupam-se com o legado negativo de políticos e representantes de setores econômicos que não se importam com a sobrevivência de outros seres vivos e as futuras gerações, que já começam a enfrentar a escassez de água potável e de terras férteis, além da poluição em níveis inéditos e alarmantes da atmosfera, dos solos e de corpos hídricos.”

Um dos aspectos mais interessantes da adolescente é a capacidade de engajar jovens do mundo todo para exigir ações!

“Greta Thunberg surge como a voz dissonante de uma juventude que muitos dizem ter se alienado das causas ambientais, inerte em redes sociais e no universo digital, provando que há, sim, muita energia e consciência nessa faixa etária”

Luis Felipe Valle, professor

Mas por que Greta incomoda determinados grupos? O professor relaciona a crescente politização da causa ambiental à polarização ideológica que o mundo vive hoje. Além disso, chama a atenção para a ascensão do movimento negacionista do aquecimento global, que alega não existir evidências da influência humana sobre o clima e são contrários aos consensos científicos estabelecidos sobre o tema. Outro problema , segundo o professor, é que muitas vezes as informações científicas são divulgadas de maneira espetacularizada ou sensacionalista, prevendo um cenário catastrófico para o futuro da Terra. “O desafio é filtrar, nessa mesma plataforma, as fake news e a pós-verdade apoiada no negacionismo anticientífico de quem se recusa a ver os graves problemas que já estamos enfrentando e avaliar com equilíbrio a nossa parcela de culpa sobre eles”, afirma Valle. O professor alerta que é preciso somar o discurso de Greta ao coletivo de pesquisadores, ambientalistas, lideranças comunitárias, povos tradicionais, como os indígenas, e ativistas que, há décadas, dedicam suas vidas a salvar o planeta. “Para além do midiatismo bem-intencionado alavancado por Greta, resta saber: estaremos prontos para alterar estruturalmente um sistema baseado na crescente e incessante exploração de recursos naturais, à medida que se criam demandas igualmente demandas igualmente lucrativas e predatórias?”, questiona o especialista.

28.ago.2019 – A jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg chega a Nova York após cruzar o Atlântico em um veleiro Imagem: Mike Segar/Reuters

Segundo ele, é importante reduzir o uso dos combustíveis fósseis e repensar os modelos de produção e consumo para garantir a sustentabilidade da nossa sociedade.

“Para compreender as mudanças climáticas do planeta é preciso, antes de tudo, lembrar-se de que as temperaturas da Terra variaram (e continuam variando) muito ao longo das eras geológicas, ao longo de bilhões de anos”

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